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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Celso Unzelte, um contador de histórias

Celso Dario Unzelte é um homem de manias. Entre essas, algumas das mais conhecidas: gosta de cantar hinos dos clubes de futebol, não usa camisa verde e coleciona datas – principalmente as de jogos do seu time do coração, Corinthians. No entanto, a mais notável, que pode ser percebida em pouco tempo com o jornalista, é sua grande mania de contar histórias.

Característica familiar. Em entrevista coletiva para os alunos da Faculdade Cásper Líbero, em 19 de junho, Celso revela que seu irmão cospe toda vez que passa pelo parque Antártica, e que seu avô, são-paulino de carteirinha, gostava de contar histórias para ele durante sua infância.

Época esta em que passava a maior parte de seu tempo lendo histórias em quadrinhos: “aos cinco anos, eu tinha absoluta certeza que seria o Walt Disney do Brasil”. E bem que tentou. O menino “nerd”, como Unzelte se descreve, desenhava em todo lugar, “até atrás do sofá branco da mãe”.

Não conquistou seu legado tão esperado, mas foi por meio de sua coleção de gibis, que contou com cerca de mil, que o “louco por futebol” passou a entender sobre o esporte. “Até os nove anos de idade eu detestava futebol. Um dia caiu em minhas mãos o Manual do Zé Carioca, que contava a história do futebol, aí eu me interessei pela teoria. Na prática sempre fui muito ruim de futebol, só um bom goleiro”, diz mostrando um dedo torto, modificado após levar uma bolada.

Esse interesse por história e pelo futebol veio a lhe favorecer anos mais tarde, quando decidiu ser jornalista. Formou-se em jornalismo pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM), no ano de 1989, e começou sua carreira no ano seguinte, na revista Placar, a mesma que comprava para ler as letras dos hinos dos clubes. Trabalhou em outros veículos como a Quatro Rodas e até mesmo brevemente para o Notícias Populares.

Fora das redações, ele escreveu livros como Almanaque do Timão e Almanaque do Palmeiras. Ao explicar o motivo de ter feito o almanaque do “inimigo de estimação” ele brinca dizendo que só trabalhou nas derrotas. “Só trabalho por prazer”, ri. A verdade, no entanto, é outra: “brincadeiras à parte, mais do que um clube, eu gosto da história do futebol”, justifica.

Com esse clima descontraído, Celso Unzelte tocava a coletiva com seus alunos, que aproveitavam a ótima oportunidade para saber curiosidades sobre a mão final na coloração do boletim de Jornalismo Básico. Esse cargo, já há sete anos atribuído a ele, surgiu ao acaso, por um convite do colega de trabalho Carlos Costa, que também leciona na Faculdade Cásper Líbero.

Não somente durante as aulas, Unzelte foca na questão da apuração, da informação acima da opinião e formula quase que uma receita para a profissão: menos caciques, mais índios – crítica aos veículos que lançam nomes consagrados do jornalismo, mas não se importam com a qualidade da informação.

A coletiva durou cerca de uma hora e quarenta minutos e alguns alunos ainda passaram o intervalo conversando com o professor, disposto a ensiná-los através de sua experiência. Parece que tudo teve um encaixe na vida daquele menino nerd, leitor assíduo, de excelente memória, terrível no futebol, neto de são-paulino e filho de corintiano: além de um profissional apaixonado pelo jornalismo, ensina com suas histórias.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Luís Augusto May: o jornalista que fez arder o Império

Quando se diz acerca dos negócios do Estado: Que me importa? Deve-se contar que o Estado está perdido”
Jean-Jacques Rousseau
Luís Augusto May foi um importante jornalista na época da Independência e do Império no Brasil. O lisboeta nasceu em 1782, e com 16 anos alistou-se nas forças armadas de Portugal, chegando a se tornar capitão de artilharia. Estudou em Coimbra como seminarista e fez parte do Batalhão Acadêmico, resistência à ocupação francesa no país. May foi funcionário da Secretaria da Legação Estrangeira em Londres antes de vir ao Brasil, em 1810, trabalhar como intérprete dos trabalhadores suecos da Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, em Sorocaba, interior de São Paulo.


Ao final do ano de 1821, o Brasil vivia um cenário político instável. As Cortes portuguesas lançavam decretos a fim de submeter o país novamente a Portugal, com a retomada do pacto colonial e retorno do príncipe regente à capital lusitana. Porém, isso já não era mais possível, pois a população que aqui vivia já havia tomado gosto pelo comércio, pela relativa liberdade e principalmente pelo poder da imprensa. É nesse fervor que, em 18 de dezembro, surge o último jornal desse mesmo ano: A Malagueta, obra de Luís Augusto May.


Tratava-se de uma publicação em primeira pessoa e direcionada ao imperador D. Pedro I. Era independente do Revérbero Constitucional Fluminense e do Grupo dos Andradas, que dominavam a imprensa carioca e funcionavam com aval do governo. Até por isso, o feito de um homem comum como Luís Augusto May é considerado muito importante para as proporções da época: conquistou 500 assinaturas na Corte, se tornando o jornal de maior circulação.

Como era de costume do jornalismo daquele período, a informação era colocada em segundo plano em detrimento das opiniões – e o despertar destas é o fator que mobilizaria a população para unir-se contra as atitudes de recolonização, e por isso a imprensa teve um papel muito importante no processo de independência. No caso da Malagueta, essas opiniões refletiam o estilo de seu realizador, “cheio de circunlóquios, de observação de duplo sentido, de falsa subserviência”, como descreve Isabel Lustosa, em seu livro Insultos impressos. Em seus textos concentravam críticas liberais ao governo, principalmente a José Bonifácio, velho conhecido dos tempos de Batalhão Acadêmico. Esse posicionamento, na maioria das vezes irônico e provocante, somado ao caráter ambicioso – “May gostava de um cargo público, de uma condecoração”, já diria Lustosa - lhe renderia algumas retaliações futuras.

Exemplo disso foi o fato que não demorou a acontecer: May teria tirado a Malagueta de circulação com o objetivo de ser nomeado a um cargo no exterior. Não obtendo sucesso, ameaçou voltar com a publicação, em oposição ao governo. Assim, se deu início à uma série de desavenças com outro jornal: O Espelho, no qual o próprio imperador escrevia sob pseudônimos. Em uma das publicações envolvidas e de possível autoria de Dom Pedro, era questionado o caráter do opositor, além de denunciar um relacionamento homossexual com o Conde das Galveias e acusá-lo de furtar documentos do Conde de Funchal. Não bastando, o violento ataque ainda descrevia, em linguagem chula, as características físicas do mesmo. O caso não acabaria por aí. Ao revidar com a Malagueta nº2 (em 5 de junho 1822), May foi espancado em sua própria casa, no dia seguinte à publicação.

Essa não seria a última represália sofrida por ele. Em agosto de 1829, sofreu outra agressão quando estava andando na rua, acompanhado de Cunha Matos. Nessa ocasião, Luís Augusto May era deputado, cargo que exerceu duas vezes em sua vida: em 1826 e em 1829. A última malagueta circulou em 31 de março de 1832 e, após as repressões sofridas por seu realizador, não foi mais a mesma, sua visão política estava mais branda. Luís Augusto May faleceu com 68 anos, em 1850, no Rio de Janeiro.

*Trabalho de História da Comunicação - Perfil de personagem da imprensa