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domingo, 17 de outubro de 2010
Homesick
Não tinha teto, não tinha nada. Desde pequena, sentia que não estava em casa, sua mãe achava muito estranho. De fato, nunca esteve. Não lembro bem como nem quando aconteceu, mas em algum momento ela mudou de cidade. Não gostou. Os anos não foram amigos, mas se adaptou. Achou um bom lugar: tinha uma praça só pra ela. Finalmente!, pensou. Quis cores e prateleiras, mas percebeu que não tinha direito, lá não era e não seria seu. Foi pra longe e sentiu muita saudade da janela antiga. Aos poucos, nem lá, nem cá, não se encaixava. Morava sempre de favores. Os livros formavam pilhas e, sobre eles, a poeira. O clima nem sempre era agradável, o sono não era leve e a vida começou a mostrar um caminho de pedras. A menina era seu próprio lar. Era de todo lugar; de qualquer lugar, de lugar nenhum.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Chega de saudade
"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas, e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado." - Gabriel Garcia Márquez
Você já tem alguns anos ou algumas décadas e poucos amigos. Uma coleção de rostos conhecidos. A verdade é que deles o sabido é insuficiente, e a nostalgia engana. Não chega a ser saudade, mas sim uma vontade de viver aquela época novamente – o que são, sim, duas coisas bem diferentes. É preciso deixar as pessoas irem, assim como virem e voltarem, em seu tempo, a todo tempo. Chega de não-sentir tanta saudade e a declamar a qualquer um como fazemos aos amigos de infância, às pessoas com quem convive, a quem se ama. Façamos jus a estes últimos e admitamos quando for pura incapacidade de seguir em frente, de aceitar a mudança, de refazer a mente. A lembrança reconstrói os fatos de uma forma sempre mais amena, sutil e doce. Pois então, façamos isso com o presente e reconheçamos os momentos verdadeiros, as dores fiéis e os amores de fato únicos. Deixemos de lado essa manifestação bit-amigável, que faz de todos nós populares. Deixemos as saídas que nunca acontecerão, as pessoas que nunca foram e nunca serão. É preciso abrir mão, ser apenas vão, guardar o que realmente foi, e que seja bonito sem precisar do tempo pra enfeitar.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Todas as margens
Me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio.
Em sua análise sobre o conto A Terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa, Luiz Costa Lima diz que o Pai do narrador coloca-se “no centro, na raiz proibida ao humano”, ou seja, ele morre e aceita sua vez de partir. Essa atitude é incomum, pois o conceito de morte e o que vem após ela, além da aceitação de abrir mão da vida sem relutância extrema e é inconcebível em termos de razão humana. Essa mesma razão é limitada pela impregnação mágica estilística contida na história. Em vez dessa magia apenas introduzir um universo aquém do possível imaginável, ela demonstra uma racionalidade radical de quem não aceita partir para a terceira margem, uma margem do Além. É nesse ponto que o narrador para, não aceitando a troca proposta dos lugares e mantendo “o seu compromisso com o reino do humano, onde persiste no desconhecido da insegurança.” Sendo assim, existe um duplo comprometimento com o esse reino: o personagem é mortal e efetivamente morre, cumprindo seu ciclo vital; mas não encara a vez de morrer, persistindo no desconhecido da insegurança que aflige todos os pertencentes à margem real do rio, a da vida.
É para se chegar nesse ponto - o da morte do personagem Filho, que Walnice N. Galvão, ainda sobre o mesmo conto, diz que “tem-se que encarar nossa vez de morrer, mas detendo a opção, não de não morrer, mas de não encarar a nossa vez de morrer”, completando ainda que “esta última é a que o narrador faz”, ou seja, ele morre – inevitavelmente como todos os humanos, e como a maioria deles, não encara sua vez de partir. Essa explicação de Walnice deixa inevitável o entendimento de uma mensagem possível do conto: todos nós morreremos e não obtemos a possibilidade de assim não o fazer, o que está ao nosso alcance é apenas aceitar ou não esse momento, como fizeram o pai e o filho, respectivamente.
Sendo assim, podemos perceber que ao tratarem desse conto de João Guimarães Rosa, Luiz Costa Lima e Walnice N. Galvão tomam posições de confluência, apesar de não expressadas com as mesmas palavras: ambos analisam os personagens por sua habilidade de aceitar ou não sua conclusão do ciclo vital, concordando que a atitude primeira do Pai é contrária à reação final do filho.
*Esse texto é um trabalho baseado no conto A Terceira Margem do Rio, presente no livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, e nas análises do mesmo feitas por Walnice N. Galvão e Luiz Costa Lima.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Das palavras II
Ele é bonzinho, ela, bonitinha. Por mim, tanto faz. Também te amo. Talvez. Ai, que raiva que me dá! Toda essa indiferença, essas palavras porcamente escolhidas, nem um pouco queridas, mal nascidas. Dentre todas, o também. Como arde ouvir.
Vou tentar explicar; é assim, você ama perdidamente tal pessoa, está sufocantemente apaixonado. Tenta liberar essa explosão e o que ouve? Um também. Dói a não reciprocidade. É nessa hora que você percebe que está sozinho na barca, amigo. Também é um puro desabafo mal encaixado da obrigação de completar um silêncio inconveniente, revelador.
*Trecho do filme The Dreamers (Os Sonhadores), de Bernardo Bertolucci - altamente recomendado.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Penseiro esperando o trem
Quando resolvi criar esse blog, não sabia ao certo sobre o que falaria, o título que poria, e se vos agradaria. Lembro de pedir ajuda aos amigos, sugestões, imposições, alguém prepara tudo pra mim que eu só quero chegar! Teve uma conversa específica, a qual quero citar; Estava conversando com o comparsa Thiago Lins e falei algo sobre querer ser como Guimarães. Ele riu, eu me conformei, esqueci.
Quis ser como muitas pessoas nesse meio tempo, inclusive como eu mesma. Uma dessas pessoas foi Chico Buarque. Estava completamente encantada pelo homem. Foi nesse encanto que li o seguinte trecho sobre Pedro Pedreiro:
Teve uma época que eu só lia Guimarães Rosa. Eu queria ser Guimarães Rosa. [...] Quando gravei minha primeira música – hoje eu me envergonho um pouquinho disso, porque é difícil você querer ser Guimarães Rosa –, inventei esse “penseiro”, é claro que pra fazer uma rima, uma aliteração [...] mas era aquela coisa de achar que pareceria Guimarães Rosa. Parece nada.*
Já quis ser Guimarães Rosa, já quis ser Chico Buarque, já quis ser como o Chico que quis ser como Guimarães. E eu fico penseira, imaginando se este já quis ser outra pessoa.
Quis ser como muitas pessoas nesse meio tempo, inclusive como eu mesma. Uma dessas pessoas foi Chico Buarque. Estava completamente encantada pelo homem. Foi nesse encanto que li o seguinte trecho sobre Pedro Pedreiro:
Teve uma época que eu só lia Guimarães Rosa. Eu queria ser Guimarães Rosa. [...] Quando gravei minha primeira música – hoje eu me envergonho um pouquinho disso, porque é difícil você querer ser Guimarães Rosa –, inventei esse “penseiro”, é claro que pra fazer uma rima, uma aliteração [...] mas era aquela coisa de achar que pareceria Guimarães Rosa. Parece nada.*
Já quis ser Guimarães Rosa, já quis ser Chico Buarque, já quis ser como o Chico que quis ser como Guimarães. E eu fico penseira, imaginando se este já quis ser outra pessoa.
* Trecho retirado do livro Histórias de canções: Chico Buarque.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Menina
Das risadas mais gostosas
Entre amigas confidentes
Das tardes ensolaradas
Das fofocas bem contadas
Do quase beijo inocente
Na lembrança fica
Aquela última despedida
De maneira reforçada
Até um pouco engraçada
E a saudade em contrapartida
Para Marcela
Entre amigas confidentes
Das tardes ensolaradas
Das fofocas bem contadas
Do quase beijo inocente
Na lembrança fica
Aquela última despedida
De maneira reforçada
Até um pouco engraçada
E a saudade em contrapartida
Para Marcela
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Das palavras
Essas letras combinadas sempre me chamaram a atenção. Tem palavras que soam erradas, algumas parecem vindas de outra língua. Lembro-me do sofrimento que foi quando era criança e tive que aceitar cérebro ao invés de célebro, que sempre foi tão sensato e natural, menos racional. Teve ainda algumas das quais a origem é duvidosa, “ponto A” sempre me estica um biquinho à francesa – e as aulas de geometria traziam esse glamour. E acho um absurdo falar muito e não poder expressar que delícia é falar muinto! Agora, inaceitável mesmo foi, com quase duas décadas de aprendizado, descobrir o mundo do entretenimento e deixar o entreterimento. Renasci.
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