sábado, 12 de junho de 2010

Adriano Vilas Bôas

Ele teve a coragem de deixar a estabilidade da advocacia para subir nas cordas bambas do teatro. Começou fazendo o que naturalmente já faz: despertando sorrisos com seu bom humor. Passou pelo teatro, participou de vídeos independentes e agora atua em Gangbang, programa da MTV no qual interpreta um personagem muito parecido com ele mesmo. Adriano fala de teatro, TV, nonsense, originalidade e seu novo projeto.

Por que você deixou o Direito para se voltar ao teatro? Foi algo consciente na época ou aconteceu naturalmente?
No último ano da faculdade eu fazia estágio em um escritório. Aquela rotina de trabalho e as pessoas com quem trabalhava me fizeram perceber que não conseguia me imaginar trabalhando em nenhuma área do direito, o que eu tentava me convencer desde o primeiro ano de faculdade, de que descobriria uma área com a qual me identificasse e teria prazer. Coincidiu de começar um curso de clown logo no início do quinto ano, o que abriu as portas do teatro para mim. Assim que me formei em Campinas tive que voltar para Jacareí e lá, através de um amigo de meus pais que tinha um grupo, comecei a ensaiar peças e conheci outras pessoas do meio teatral da cidade.

O que é mais gratificante como ator: teatro ou televisão?
Como ator, acho que você se expressa de verdade no teatro. A televisão, desde o formato às exigências de anunciantes, remete muito mais a um produto/imagem do que a algo artístico. Por isso deve ser muito mais elaborada e pensada para poder ser algo de qualidade.

Você se inspira em alguém pra estimular sua criatividade?
Me inspiro em diversos criadores, atores e diretores. Gosto muito de Andy Kaufman, Monty Python, Tim an Eric, Zac Galafinakis, Andy Sandbert e todo o Lonely Island, Human Giant, Will Ferrel, Jim Carrey... Como ator gosto muito também de Louis Garrel, Louis Pierr Léad, atores que fazem personagens muito próximas de suas realidades e possuem características fortes, que sempre agregam às personagens que interpretam. Pretendo estudar mais arte dramática para poder me dedicar a personagens mais complexas e que me satisfaçam mais como ator.

Como surgiu a idéia do programa Gangbang?

O programa surgiu da vontade de fazer um algo extremamente surtado, que vinha das idéias que todos tínhamos na época, das coisas que vínhamos assistindo e a rotina que vivemos. Os quatro atores principais são da Trintaeum Filmes e moramos juntos, além disso, existe um "elenco fixo" que sempre participa. O primeiro programa para o Portal MTV terá quase 10 minutos e será uma única história, quase um curta, só que com a linguagem nonsense, bastante auto-referência aos demais episódios, muita metalinguagem e atores interpretando a si mesmos.

O nonsense do programa foi uma escolha também sem sentido?
O nonsense foi uma escolha natural, inconscientemente ligada ao mundo contemporâneo, da construção da identidade através da imagem e claro, devido às referências e coisas que vínhamos assistindo na época. Hoje, com essa atual temporada que estamos produzindo, vejo que o nonsense foi incorporado de forma orgânica na criação dos roteiros. Ou seja, ele faz sentido enquanto nonsense, os esquetes passaram a ter começo, meio e fim, não necessariamente nessa ordem, nem com a noção tradicional de ação e reação.

Nos anos 70, Monty Python fazia uma série cômica que já apresentava grande teor de nonsense e influenciou muitos outros programas, inclusive brasileiros, como Casseta e Planeta Urgente! e Tv Pirata. Você acha que o Gangbang se espelha nesse padrão e em que proporções ele é original?
O Gangbang tem inspiração direta do Monty Python, programa que na época aparentava ter esgotado todas as possibilidades do formato de esquetes de humor para televisão em forma e conteúdo. Trabalhando no Comédia MTV, percebi que o Gangbang tem uma estética e processo de produção muito mais próximos do cinema do que da TV: filma-se plano por plano, diversas vezes, sempre tendo o cuidado de arrumar as luzes para a fotografia em cada cena. Sendo que, no Brasil, já que o cinema existe graças às leis de incentivo, a indústria televisiva tem um processo muito mais insano de produção, no sentido de que tudo que existe um prazo para entrega, faz com que a produção tenha que ser muito rápida. Sendo assim, o Gangbang é original na medida em que não se prende aos formatos do Brasil, e também não se limita às suas referências, já que existe um foco assumido de se buscar a sinceridade do que é dito. Todos os integrantes sempre se cobram naquilo que propõem, defendem suas idéias, mas buscam não ser presos a elas. Nos deixamos ser convencidos pelos outros quando os argumentos são coerentes.

Você acha que a originalidade é possível de que maneira?
Vejo as referências como inspiração direta para a criação, o que diferencia de cópia é o fato de se apropriar das referências, torná-las parte do seu processo de criação, para então resignificá-las com suas características e forma de pensar, sempre priorizando a sinceridade daquilo que é dito, se isto é algo que te pertence. Aí, o resultado final, será uma mistura de tudo aquilo de que você gosta e se inspira de forma natural, menos pensada.

Pra você que sabe como funcionam as produções independentes, o que muda quando vê seu trabalho veiculado pela MTV?
Quando vejo o programa sendo veiculado pela MTV, sei que ele terá um alcance muito maior e que poderá ser visto por muito mais pessoas, e justamente por esses motivos, teremos que, enquanto produtores independentes, encontrar meios de se adequar a um sistema e formato sem perder a identidade.

Querô - uma reportagem maldita, peça de Plínio Marcos, é bem forte e dramática, diferente do Gangbang. Você tem alguma preferência de gênero?
Como público gosto de todos os gêneros. Como ator, prefiro a comédia, onde utilizo muito da minha personalidade na construção das personagens e situações que são plausíveis com minha realidade. No caso de Querô, o personagem tinha um perfil muito próximo também, mas não é algo que goste muito. Prefiro criar os textos em que atuo, ou atuar em textos que tenham sido criados por alguém que conhece minhas qualidade e limitações.

É mais difícil expor críticas com o humor?
Acho o humor a melhor ferramenta para expor críticas, seja quais forem. É o único lugar onde podemos rir do quanto idiota somos, na pretensão de se criticar algo ou alguém, e através dessa brincadeira fazer surgir a crítica em si. Enquanto ator, penso que somente através do humor podemos proporcionar ao público a experiência de rirem de si mesmos através do outro e dessa experiência de troca.

Poucos canais têm espaço para produções que não geram lucro. Você acha que o fator produto limita a arte?
O fator produto limita bastante a arte, e por isso vejo como um desafio a oportunidade de se educar o público para um conteúdo diferente do usual, para assim, com o tempo, possa ser um produto que atraia anunciantes (gere lucro) e tenha uma finalidade artística. Aproveitando assim, essa abertura cada vez maior da televisão para conteúdos que sejam ousados criativamente. Vide a evasão de roteiristas e atores de Hollywood para as séries de TV. O cinema está cada vez mais preocupado com o lucro, limitando assim o conteúdo dos filmes. Pensando na lógica: quanto mais caro é o filme, mais público ele precisa ter para poder obter lucro, sendo assim, quanto mais caro um filme, mais acessível ao público ele terá que ser. O mais loco é que é em Hollywood, o único lugar no mundo em que existe uma indústria de cinema onde se faz filmes independentemente da ajuda estatal - esses filmes grandes, que é gerado muito lucro, e proporciona a experimentação em projetos menores e mais ousados, que vão aos poucos sendo incorporados pelo público e com o tempo se transformam em mainstream. Parece ser um movimento cíclico.


Trintaeum Filmes GANGBANG
Programette 03 Temporada 01
"Piada"

Gangbang no Portal MTV
Trintaeum Filmes
CINEMÓIDE

Um comentário:

  1. cara, adoro Monty Python... tem um episódio que é uma partida de futebol entre filósofos, eu racho de rir, uahuahuahuaha
    http://www.youtube.com/watch?v=moWZm66J_yM

    vc escolheu bem as perguntas, foi coerente com o perfil dele... gostei qdo pergunta sobre a originalidade do Gangbang, acho legal qdo coloca o entrevistado um pouco contra a parede, acho que sempre tem que ter uma questão que dá aquela cutucada.

    (tá bom, assim? tem que elogiar mais? uhauahuahuahua)

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